Partido Comunista Português
  • Narrow screen resolution
  • Wide screen resolution
  • Auto width resolution
  • Increase font size
  • Decrease font size
  • Default font size
  • default color
  • red color
  • green color
 
 
Intervenção sobre Movimento e luta das Mulheres
Domingo, 28 Novembro 2004

Fernanda Mateus, Membro da Comissão Política do Comité Central do PCP

Camaradas

Nos últimos 30 anos, os traços mais marcantes da evolução da situação das mulheres em Portugal são indissociáveis de dois processos de sentido antagónico: por um lado, a Revolução de Abril que revolucionou a sua situação na vida e na lei e que deu forte impulso à sua luta organizada e à acção das organizações em defesa dos seus direitos; e em sentido inverso, em resultado das políticas de direita, o sistemático incumprimento de direitos, as persistentes discriminações das mulheres e os insanáveis obstáculos a uma participação em igualdade no trabalho, na família, na vida social e política.

Mas para a maioria PSD/CDS-PP já não é suficiente fazer letra morta das leis que salvaguardam importantes direitos específicos das mulheres. Vão mais longe. Mudam as leis.

Mudanças nas leis laborais e da segurança social. Mudanças que, afectando o conjunto dos trabalhadores e as camadas sociais mais vulneráveis, abrem novas possibilidades de desvalorização do valor do trabalho da trabalhadora; de uso da sua mão-de-obra de forma cada vez mais flexível e precária; de anulação dos direitos específicos das trabalhadoras, incluindo os relativos à maternidade; leis que promovem uma maior desprotecção social das mulheres na doença, no desemprego, na maternidade e na velhice e em situações de grave carência económica e social e de pobreza.

Mudanças nas políticas de família. Mudanças que subvertem os valores e princípios emanados de Abril; mudanças ao arrepio das novas realidades familiares e dos novos papéis que as mulheres aspiram assumir na vida privada e pública. São mudanças que retomam o velho conceito de família perfeita, ideal, com a mulher em casa ou a trabalhar a tempo parcial, ao domicílio ou no regime de tele-trabalho, cabendo-lhe a principal responsabilidade na prestação de cuidados aos filhos e aos idosos, na renovação da força de trabalho dos membros activo do seu agregado.

São mudanças que aprofundam a demissão do papel do Estado na garantia de funções sociais vitais para a concretização da igualdade de acesso de todas as mulheres à saúde, à segurança social, à educação, independentemente da sua condição social ou étnica. Mudanças que acentuam as causas da feminização da pobreza, do abandono e insucesso escolar, das gravidezes precoces e da prostituição de mulheres e crianças.

São mudanças que desferem duros golpes nas garantias de protecção da função social da maternidade-paternidade; que abandonam o objectivo de criação de uma adequada rede pública de creches, infantários e ATL’s e de equipamentos de apoio às necessidades específicas das idosas.

São mudanças que tornam a manutenção do aborto clandestino numa matéria central do acordo de coligação entre o PSD e o CDS-PP e da acção política do Governo e da sua maioria parlamentar; que dão azo a posições de membros desta coligação marcadas pelo preconceito contra as mulheres que abortam; que animam a perseguição judicial das mulheres que recorrem ao aborto clandestino em Portugal; que ignoram a obrigatoriedade dos serviços públicos de saúde assegurarem a interrupção voluntária da gravidez em todos os casos previstos na actual lei; que, a partir do aparelho de Estado, subvertem valores e princípios que alicerçam a implementação da educação sexual nas escolas e importantes direitos sexuais e reprodutivos conquistados, pela primeira vez, após o 25 de Abril.

Todas estas mudanças, apresentadas como o paradigma da modernidade, mais não são do que o retomar dos velhos ciclos de inferioridade social, económica, política e cultural que perseguem e afectam a condição das mulheres ao longo da história.

Este brutal ataque aos direitos das mulheres é acompanhado por uma forte e continuada ofensiva ideológica visando enfraquecer a luta organizada das mulheres e que, tendo adquirido novo fôlego com a maioria PSD/CDS-PP, se caracteriza, no que se refere aos direitos das mulheres, pela tentativa de dar exclusiva centralidade aos temas e iniciativas de instâncias nacionais e comunitárias; pela tentativa de desideologização das questões da igualdade da participação das mulheres; pela centralização das causas das discriminações em aspectos iminentemente culturais e desligados dos efeitos das políticas económicas e sociais dos sucessivos governos; pela tentativa de limitar os campos de acção das organizações de mulheres.

É uma ofensiva que pretende silenciar as causas e os responsáveis pelos problemas – a política de direita; silenciar os caminhos que podem dar êxito à igualdade e à emancipação das mulheres. Uma ofensiva que permanentemente desvaloriza e minimiza o insubstituível valor da luta organizada das mulheres.

Camaradas

Tem-se lutado — e muito — contra estas políticas e estes caminhos. As mulheres têm sido sujeitos activos destas lutas e o PCP tem estado na primeira linha deste combate. Mas precisamos de ir mais longe!

Ir mais longe na integração dos problemas e reivindicações específicas das mulheres na luta da classe operária, dos trabalhadores e das suas organizações de classe e na luta de outras importantes organizações da frente social de luta.

Precisamos de ir mais longe e ainda com maior audácia no recrutamento de mulheres para o Partido, dirigindo esforços especiais junto das operárias; na integração e responsabilização de um número crescente de mulheres comunistas aos diversos níveis da vida do PCP e aos mais diversos níveis da sua direcção, bem como na sua intervenção no plano institucional – Assembleia da República e autarquias.

É necessário redobrar os esforços visando o reforço da luta organizada das trabalhadoras no movimento sindical e na CGTP-IN, dando voz a importantes problemas e reivindicações específicas das trabalhadoras e tornando-os um factor de enriquecimento e fortalecimento da luta do conjunto dos trabalhadores.

Precisamos de ir mais longe, camaradas, no estímulo e apoio aos importantes objectivos de luta de movimentos de mulheres com as características do Movimento Democrático de Mulheres.

Camaradas

O cumprimento destes objectivos necessita do empenhamento de todo o colectivo partidário, mas não pode dispensar um mais vivo, irreverente e audaz empenho de todas as mulheres comunistas contra os preconceitos e as discriminações a que as mulheres continuam sujeitas na sociedade e em defesa dos seus direitos e aspirações.

Só assim estaremos em condições de responder aos desafios que estão colocados ao PCP, no presente e no futuro. Só assim estaremos em condições de afirmar e consolidar a longa e coerente intervenção do Partido Comunista Português em defesa da igualdade e da emancipação feminina. Uma intervenção que só foi possível com a empenhada e abnegada intervenção de sucessivas gerações de mulheres comunistas.


Viva as mulheres comunistas!

Viva o PCP!