Nas reuniões
preparatórias do nosso Congresso, uma das questões mais debatidas
foi reconhecidamente esta:
Como comunicar aos portugueses o que fazemos, o que pensamos e
o que somos de verdade, em vez das caricaturas e das cassetes que
inventam a nosso respeito? Como vencer os bloqueios e as
desvantagens resultantes da enorme desproporção de forças e de
recursos entre nós e os nossos adversários? Como comunicar
melhor e com mais eficácia? Como assegurar um diálogo directo e
interactivo com os cidadãos, para impulsionar decisivamente o
movimento de transformação da sociedade, de mobilização de
mais trabalhadores para o combate por uma política de esquerda,
de compreensão por mais portugueses de que é com o PCP que é possível
uma verdadeira alternativa?
Enfrentamos sem dúvida obstáculos poderosos nesta desigual,
mas indispensável e cada vez mais decisiva, batalha da
comunicação em que todos nos temos de empenhar.
Obstáculos em especial decorrentes do crescente domínio e condicionamento
dos meios de comunicação social e das modernas tecnologias da
informação, com os cada vez mais vultosos investimentos a que
obrigam, por grandes grupos económicos em aliança com os
detentores do poder político.
Eles querem usar os media e as novas tecnologias da
informação para impôr a hegemonia do chamado «pensamento
único» de afirmação do capitalismo como presente e futuro
inevitáveis da Humanidade, para apagar identidades sociais,
culturais e de classe, para transformar cidadãos em espectadores
conformados, egoístas e isolados. Eles produzem uma informação
dispersa, fragmentada, efémera e volátil, em que a causa das
coisas é escondida, os mecanismos de exploração e dominação
capitalista e imperialista são escamoteados e o que fica do que passa
é um sedimento de valores negativos e alienantes.
Eles, o PS e o PSD que, com a bengala do CDS-PP, são
responsáveis pela política de direita em Portugal, querem
distanciar as pessoas da política, transformá-la num mero
espectáculo mediático e dissolver a consciência de classe dos
trabalhadores e de todos os explorados na chamada «classe média»,
que pretendem ser a base sociológica de um «bloco central» inorgânico
em que, em vez do confronto de reais alternativas políticas, apenas
se ofereceria ao voto periódico dos portugueses a empobrecedora alternância
no poder de actores políticos com ideias cada vez mais semelhantes.
Não reduzimos a política à comunicação, porém não
ignoramos a importância cada vez maior da comunicação na
política.
Mas também aqui afirmamos a nossa diferença. Queremos ser
mais e melhor entendidos pelos portugueses nas circunstâncias
concretas deste final de século, mas assumindo com inteireza
e orgulho o nosso projecto revolucionário e transformador, o
nosso património, o nosso percurso e a nossa identidade
comunista.
Lutamos e tudo faremos para que os media e as
tecnologias da informação sejam colocados ao serviço do debate
de ideias e da formação de opções esclarecidas e
responsáveis dos cidadãos. Não aceitamos reduzir os cidadãos
a consumidores passivos. Não aceitamos reduzir as ideias e os protagonistas
do debate político a mercadorias em que o que conta sobretudo é
a embalagem. Recusamos substituir o real pelo virtual, a verdade
pelo faz de conta, o gato por lebre. Assumimos a necessidade de coerência
entre forma e conteúdo, entre a imagem e as ideias por que lutamos.
Não temos uma visão publicitária da comunicação
política. A informação e a propaganda, a comunicação
política, não são para nós a arte de enganar o próximo, de
obrigar alguém a consumir o que não precisa, mas um meio nobre
para transmitir, de modo acessível e directo, o nosso projecto e
as nossas ideias, apelando à inteligência, à responsabilidade
e à participação de quem nos escuta, lê e vê.
Compreender o carácter estruturante e decisivo que a
comunicação detém hoje na acção política, significa também
compreender o seu decisivo valor como elemento para aprofundar as
raízes e o papel transformador do Partido na sociedade, o seu
decisivo contributo para dinamizar os organismos de base do
Partido, para uma mais ampla e generalizada militância e
responsabilização dos comunistas, assumindo-se como comunicadores
esclarecidos e informados no trabalho, na escola ou no bairro.
Não abdicamos de continuar a dar absoluta prioridade na nossa
actividade de comunicação ao diálogo directo e pessoal com os
trabalhadores, com os jovens, com todos os cidadãos. Porque é a
falar pessoalmente que a gente se entende, se conhece, mais e
melhor participa. O uso de novos e mais sofisticados meios de
informação e propaganda não substitui, antes complementa, o
indispensável desenvolvimento da iniciativa local. É na empresa,
no bairro, na freguesia, no concelho, através do comunicado, do
jornal de parede, da sessão, do diálogo, duma declaração
oportuna à comunicação social, que o Partido age, toma a
iniciativa, com oportunidade, conhecimento do meio, capacidade de
usar a linguagem e a forma de expressão mais adequadas para
transmitir as nossas posições e ideias.
Precisamos, sem dúvida, de trabalhar para o desenvolvimento e
a formação, a todos os níveis, das estruturas, dos meios e dos
quadros de informação e propaganda. De progredir no uso de
linguagens e processos de comunicação que tornem mais eficaz e
acessível a nossa mensagem. De organizar um persistente e mais
qualificado trabalho e relacionamento com a comunicação social
nacional e local e de cuidar da imagem das nossas iniciativas na
sua dupla e complementar dimensão - a sua dimensão mediática e
a sua dimensão local. De desenvolver campanhas de esclarecimento
e informação em torno de grandes causas e temas sociais e políticos.
Precisamos de aprofundar o domínio das novas tecnologias de informação
(e nessa matéria, como partido, até fomos pioneiros em Portugal
quanto à Internet), mas sem menosprezar ao mesmo tempo meios clássicos
de comunicação, simples e directos. Precisamos de desenvolver uma
melhor e mais pronta informação dos militantes que os capacite
como comunicadores. De dinamizar a nossa actividade editorial. De
trabalhar mais e ainda melhor para valorizar a imprensa do
Partido como veículo insubstituível no plano da formação e da
informação. De mais dinamismo e iniciativa dos quadros
comunistas, como é o caso dos intelectuais, no agudo debate de
ideias que se trava na sociedade.
Mas precisamos sobretudo de assumir com mais profundidade que
a principal mais-valia que possuímos para comunicar as nossas
ideias é, como refere a proposta de Resolução Política, esta
ímpar e enorme rede nacional de comunicação militante que é o
nosso próprio Partido. É este grande colectivo partidário, é
esta enorme corrente de convicções e de vontades que,
organizada e em movimento, não fechada em si mesma mas virada
para intervir na sociedade e transformar a vida, é capaz de enfrentar
a desigualdade de meios e partir decididamente à conquista da inteligência
e da sensibilidade de mais trabalhadores, de mais jovens, de mais
cidadãos. Seremos então capazes de enfrentar e resolver o
complexo caderno de encargos e de orientações que, quanto ao
nosso trabalho de comunicação, nos propômos levar à prática
para conquistar a adesão de mais trabalhadores, de mais jovens,
de mais portugueses, para as nossas ideias e as nossas propostas, condição
necessária para combater e desmascarar com sucesso a
política de direita do Governo PS, condição necessária
para dar mais força ao PCP e à CDU nas próximas eleições autárquicas, condição
necessária para que uma alternativa e uma política de
esquerda sejam possíveis em Portugal!