Intervenção

Intervenção do deputado<br />Na apresentação do seu relatório

Senhor Presidente, Julgo haver entre nós um profundo consenso em torno da ideia de forjar uma parceria eficaz entre a União Europeia e as Nações Unidas, desde logo nos domínios da acção humanitária e do desenvolvimento. Isso mesmo ficou patente na discussão e na votação que efectuámos na Comissão para o Desenvolvimento e a Cooperação. E espero que o mesmo acontecerá agora. E algo diferente seria incompreensível, particularmente se tivermos em conta os objectivos universalmente proclamados nestes domínios - especialmente os desafios e os objectivos da Declaração do Milénio - e, simultaneamente, a notória falta de coordenação para lhes dar concretização e a evidente escassez de recursos, que se tem verificado até ao momento. Pena é, entretanto, que a Comissão não tenha desde já optado por uma abordagem completa e integrada desta parceria e tenha deixado para momento ulterior as questões de segurança, da manutenção da paz, da prevenção dos conflitos e da gestão das crises, tanto mais porque é conhecida a interligação destes aspectos com os que motivam a presente Comunicação. Ainda assim e em geral, parece-me positivo o sentido da mesma, nomeadamente quando se tomam as NU como referência e pilar fundamentais para a prossecução dos objectivos e das políticas comunitárias em tais domínios. Entretanto importa sublinhar a necessidade de ultrapassar contradições que hoje se verificam e que resultam bem patentes, por um lado, pelo papel relevante que os Estados-membros assumem nas Nações Unidas em termos de contribuições financeiras para as diversas acções e para o seu orçamento - ou mesmo e importante contributo dos mesmos e da União Europeia para os diferentes fundos da NU - e, por outro lado, pelo evidente nível reduzido de influência política que ambos exercem, nomeadamente junto das agências especializadas. É necessário alterar uma tal situação. O que deve ter subjacente uma maior articulação entre os próprios Estados-membros e um maior envolvimento destes e da UE nos programas das Nações Unidas, nas suas diferentes fases; e, acima de tudo, uma maior capacidade de envolvimento na definição de estratégias de desenvolvimento e na programação e concretização das acções a implementar neste domínio. O que permitirá, de resto, assegurar uma maior coerência e a optimização dos impactos respectivos. A Comunicação da Comissão, com vista a atingir os objectivos proclamados desta parceria, salienta a necessidade de um enquadramento administrativo, quer através da conclusão positiva das negociações em curso sobre uma "cláusula de verificação" - que permitirá assegurar uma informação suficiente sobre a utilização dos fundos comunitários disponibilizados -, quer através da renegociação do Acordo-quadro da CE/ONU de 1999, por forma a garantir uma abordagem mais centrada nas operações de co-financiamento, na orçamentação baseada nos resultados e no financiamento a montante dos programas. Acompanhamos estas posições. Mas sublinhamos igualmente que a prossecução duma parceria eficaz bem como a compatibilização das estruturas e procedimento deve ser promovida a três níveis:

  • com o reforço do diálogo político estratégico com vista à definição das políticas e dos programas;
  • pelo reforço da cooperação no terreno, a nível dos países em vias de desenvolvimento, de forma a assegurar a complementaridade e a coerência ao nível operacional; e
  • pela criação de um quadro financeiro estável, com regras e princípios coerentes entre as duas instituições (bem como pelo referido novo Acordo-quadro).
Entretanto e tal como é referido na abordagem da Comissão, é indispensável que o primeiro passo desta cooperação consista numa selecção dos parceiros mais adequados no quadro do sistema das Nações Unidas. Como indispensável é, que ao nível comunitário, se dê rápida conclusão aos processos de descentralização e desconcentração da gestão e das tomadas de decisão e se assegure o envolvimento democrático dos movimentos sociais e, em geral da "sociedade civil". Finalmente, quero afirmar que o nosso empenhamento nesta parceria e o desejo de acompanhar o respectivo processo de implementação nos leva a solicitar à Comissão uma informação adequada e atempada sobre o desenrolar do mesmo; sugerindo, nomeadamente, que inclua uma informação específica sobre ele no seu relatório anual sobre a política de cooperação.

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