Intervenção

Intervenção de abertura da 9ª Assembleia da Organização Regional de Setúbal

Intervenção de abertura da 9ª Assembleia da Organização Regional de Setúbal

Queridos camaradas delegados e delegadas,
Estimados convidados,

Recebam em nome da DORS que hoje termina as suas funções uma saudação muito fraterna e os votos de que esta nossa 9ª Assembleia da Organização Regional de Setúbal seja o contributo de que precisamos para Reforçar o Partido, intervir e lutar – pelos valores de Abril no Futuro de Portugal.

No processo preparatório da nossa Assembleia realizaram-se 106 assembleias para discutir o projecto de resolução política e eleger os delegados. É um processo que comprova que a realização desta Assembleia não é apenas o dia que aqui hoje vamos viver, antes ínclui e pressupõe a participação activa de muitos outros militantes do Partido que com a sua opinião e proposta também construíram as orientações que hoje vamos aprovar e contribuíram para a nova DORS que vamos eleger.

Camaradas,

Vou poupar-nos à descrição da dimensão da ofensiva que o grande capital e os partidos da política de direita lançaram contra o povo e o país. Temos todos demasiado presente nas nossas vidas, nas das nossas famílias, nas das pessoas que nos rodeiam o que significaram para os trabalhadores e o povo estes quatro anos.

A 11 de Abril de 2011 realizámos a nossa 8ª Assembleia, aqui bem perto, na SFUAP. Pouco mais de um mês depois, a 17 de Maio, a troika nacional assinou com a troika estrangeira um chamado memorando a que o nosso Partido, muito justamente, chamou Pacto de Agressão. Dois meses depois, a 5 de Junho, realizaram-se as eleições legislativas que viriam a dar origem ao Governo do PSD e do CDS que ainda hoje, mesmo derrotado e isolado, se mantém em funções.

Lembramos aqui estas datas porque elas são marcantes do que se viria a passar no nosso país nos quatro anos seguintes, até hoje. O resultado de três anos de Pacto de Agressão e de quase quatro deste Governo é um país e uma região mais pobres, mais dependentes, onde o desemprego e a precariedade passaram a ser um flagelo social, onde a pobreza atinge mais de dois milhões e meio de pessoas, onde há fome e exploração, onde não há uma família que não tenha sido separada pela emigração forçada, onde a saúde, a educação, o apoio social, a cultura ficaram mais inacessíveis para camadas cada vez maiores do nosso povo.

Foram quatro anos de um brutal retrocesso social. Mas também foram quatro anos de lutas exaltantes, que vão ficar marcadas na história do movimento operário e na memória de milhões de portugueses que neste período deram o passo de participar pela primeira vez numa luta.

Pensemos nas quatro greves gerais realizadas, nas muitas acções de luta convergentes, de que é justo destacar as duas vezes que o Terreiro do Paço foi pequeno para tanto povo, pensemos nas lutas nas empresas, nos locais de trabalho, nas escolas, à porta dos centros de saúde e dos hospitais, dos tribunais e das juntas de freguesia, dos transportes e dos correios. Pensemos como a ponte 25 de Abril se encheu de determinação e de confiança, mesmo que tenham invocado razões de segurança para não se ter passado a pé (hoje, não resistimos a dizer, está cheia de gente a correr a meia maratona, e sem problema nenhum!) Pensemos em como os carros do lixo a buzinar à porta da Assembleia da República simbolizaram o compromisso destas populações em não aceitar a fatalidade das privatizações. Em todas as lutas estavam lá os comunistas, estava lá a organização do Partido. Mas também estavam muitos muitos mil que disseram basta. Basta de exploração, basta de injustiça, basta de roubo, basta de vender a soberania de um povo e de um país com nove séculos de história.

Há quem possa olhar para estas lutas destes quatro anos e pensar que não valeu a pena, que não resistimos o suficiente, que o inimigo teve mais força do que nós. O que temos de dizer a quem olhe para a realidade assim, é pedir-lhe que pense onde estaríamos nós, onde estaria o país, se não tivéssemos lutado e resistido? Durante esta Assembleia vamos falar de certeza de muitas vitórias – de trabalhadores que defenderam o seu posto de trabalho e os seus direitos, que conquistaram aumentos de salário, problemas que se resolveram. Mas também é imperioso que se reflicta até onde teriam chegado as troikas, as forças da contra-revolução, os partidos da política de direita, o patronato. Cada objectivo que tinham e não conseguiram concretizar, cada dia que os obrigámos a adiar os seus intentos, são vitórias que ninguém pode desvalorizar.

Em quatro anos, a organização do Partido deu resposta à luta, nesta dimensão extraordinária, participou em três actos eleitorais (legislativas, autárquicas e Parlamento Europeu) de onde a CDU saiu reforçada (no caso do nosso distrito, a CDU foi a força mais votada em duas destas três eleições).

Nestes quatro anos, destacam-se igualmente as comemorações do centenário do nascimento do camarada Álvaro Cunhal e do 40º aniversário da Revolução de Abril. Foram momentos de grande combate ideológico e de afirmação dos valores, ideais e objectivos do Partido. Da mesma forma, o empenho da organização do Partido nas comemorações dos aniversários do PCP, nas quatro edições da Festa do Avante!, e nas muitas batalhas de esclarecimento politico que travámos foi decisiva.

Sabemos que não fizemos tudo bem. Cada um dos camaradas delegados consegue com certeza lembrar-se deste ou daquele assunto, desta ou daquela tarefa, deste ou daquele problema que não resolvemos, que não tratámos ou que acompanhámos mal. Isso não deve servir para desmoralizar, nem para desvalorizar o que concretizámos, no contexto em que o fizemos.

Deve servir para melhorar o nosso trabalho. A proposta de resolução política aponta a necessidade de vencer obstáculos e estrangulamentos diversos no nosso trabalho de direcção: precisamos de recrutar mais, de envolver mais militantes do Partido, de reforçar a organização nas empresas, de imprimir um estilo de massas no trabalho das organizações de base, de resolver a grave situação financeira do Partido.

Pela primeira vez em muitos anos, terminámos o ano de 2014 com menos militantes. O número de recrutamentos não chegou para compensar o número de falecimentos confirmados durante a acção de contactos. Não podemos fazer nada contra a lei da vida e só devemos valorizar que tantos e tantos milhares de camaradas inscritos durante a Revolução se mantenham sempre firmes e com o Partido – é motivo de orgulho e factor da influência social que o Partido tem na região. Mas podemos fazer muito mais para trazer mais gente ao Partido, gente que se destaca na empresa, no sindicato, na colectividade, que está connosco na CDU, que está connosco nas lutas. Em muitos casos, recrutar rapidamente é a única forma de garantir que vamos continuar a ter organização em determinado local, ou que a passaremos a ter em certas empresas.

Precisamos que mais camaradas participem na vida regular das organizações, que possam assumir tarefas, por modestas que possam parecer, que conheçam e contribuam para a orientação do Partido. Se é verdade que isso parte em primeiro lugar da militância de cada um, também é verdade que é obrigação dos organismos de direcção do Partido estimular e criar condições para que mais camaradas participem. A acção de contacto com os membros do Partido, que está colocado terminar nos próximos dois meses, é um instrumento decisivo para saber quantos somos, onde estamos, que disponibilidade temos, como nos organizamos melhor.

Precisamos de ter mais Partido nas empresas e nos locais de trabalho. A precariedade, a exploração, a repressão são dados com que contamos, não são decretos de impossibilidade. Apesar da destruição de emprego, da emigração, dos despedimentos selectivos, da reforma de muitas centenas de camaradas, chegamos a esta Assembleia com quase mais 150 membros do Partido organizados por local de trabalho do que tínhamos há 4 anos. Houve organizações do Partido que desapareceram porque a empresa desapareceu, mas também há células e perspectivas de trabalho novas. Ao contrário do que alguns arautos da desgraça querem fazer crer, não há só recuos. Quando se planifica o trabalho, quando se destacam quadros, particularmente funcionários, há avanços, como registámos nestes quatro anos na Portucel, na SN / Lusosider, na Amarsul, na Ecalma, na Visteon ou nas células dos professores.

Precisamos que todas as organizações de base do Partido, sejam células de empresa ou comissões locais, imprimam ao seu trabalho uma dinâmica de massas. São fundamentais a agitação e a propaganda, a profunda ligação aos problemas mais sentidos, a presença do Partido apresentando propostas para a solução de problemas, promovendo e unidade dos trabalhadores e das suas organizações de classe nas empresas e locais de trabalho e também nas localidades, garantindo uma constante presença na rua. Nos próximos tempos, nas pequenas e grandes acções que vamos realizar no âmbito das iniciativas «Com a força do povo», «no concelho e no pais», nas comemorações populares do 25 de Abril, nas manifestações do 1º de Maio, na campanha eleitoral que agora vamos começar, é esse o estilo que deve prevalecer: conversar, ouvir, convencer.esclarecer, ganhar para as nossas posições.

Precisamos de garantir a independência financeira, que também é política e ideológica, do nosso Partido. A quotização, o cumprimento do princípio de que os comunistas não são prejudicados nem beneficiados no exercício de cargos públicos, as inúmeras iniciativas levadas a cabo pelas organizações, bem como o funcionamento dos locais de convivio nos centros de trabalho são questões chave. A campanha nacional de fundos em curso já provou ser o instrumento correcto e galvanizador para este momento.

Camaradas,

A responsabilidade que o povo nos entregou nesta região nos últimos três actos eleitorais é enorme. A maioria CDU em oito das nove Câmaras Municipais e em 30 das 37 freguesias e uniões de freguesia, termos sido a força mais votada para o Parlamento Europeu, termos consolidado a votação na CDU nas legislativas, enche-nos de orgulho. Naturalmente que o respeito pela confiança depositada em nós exige trabalho, honestidade e competência a todos os eleitos, como exige um cuidado trabalho de direcção aos organismos do Partido.

Esta responsabilidade tão grande, às vezes tão pesada, é um estímulo ao nosso trabalho. As nossas posições institucionais estão postas ao serviço dos trabalhadores e do povo, são factor de ligação às massas e de prestígio do Partido, abrem possibilidades enormes para contribuir para a elevação da consciência social e política do povo desta região.

A todos os que confiam em nós para a gestão das suas autarquias, temos de devolver a confiança que temos soluções não só para cada terra, como para o país. Devolver-lhes a confiança de que, com a sua intervenção e a sua luta, nada é impossível.

Que com o PCP, com os trabalhadores, com o povo, com os democratas e os patriotas, há em Portugal força suficiente para romper com a política de direita, para construir uma política patriótica e de esquerda. Há no nosso país força suficiente para lutar pela democracia avançada, pelos valores de Abril no futuro de Portugal, pelo socialismo, pelo comunismo.

Bom trabalho, camaradas!

Viva a 9ª AORS!
Viva a JCP!
Viva o PCP!