"Farronca e irresponsabilidade perante a História" - António Abreu na "Capital"

O assomo de farronca de Durão Barroso face ao atentado de Nassíria, esta fuga para a frente irresponsável de um dirigente político que aceita de qualquer maneira ser sub-empreiteiro dos interesses norte-americanos no Iraque, não é de estranhar. Habituou-nos a isso.

O que está em causa não é a coragem dos nossos militares, atrás dos quais se disfarça esta libertinagem do verbo. É a sua preparação para um cenário que não é o que lhes foi perspectivado.

Não é a sua disponibilidade voluntária para um cenário destes, mesmo depois de conhecido o atentado, que se questiona. É o de sublinhar que não é com leviandades, sacadas do arsenal das velharias, que se pode encarar a responsabilidade do governo em relação à vida dos seus cidadãos.

Não é a eventual sintonia da decisão do Governo com o sentimento geral dos portugueses. Porque sabemos que os portugueses estão contra agressão ilegal dos senhores Bush e Blair.

Não é confundir prudência com cobardia. Cobardia é usar a disponibilidade dos nossos jovens para esconder o que está por detrás desta guerra, é conformar-se com o papel secundário a que aceitam votar a nossa soberania e a nossa capacidade de nos afirmarmos com esforço e imaginação em vez de ficar à espera das sobras do banquete.

Não é não ser capaz de resistir à escalada de violência. É resistir-lhe, não ignorando o acto ignóbil que lhe esteve na origem: basear uma agressão numa mentira.

Não é o orgulho nos nossos jovens que está em causa. É o desconforto com tal governo, a incapacidade de revermos o nosso orgulho de portugueses em fanfarronadas de ópera bufa.

Não é querermos abandonar o povo iraquiano à sua sorte. É salientarmos o azar que os iraquianos tiveram em ter um Saddham e de seguida uma agressão que todo o mundo já viu que não foi encarada como um acto de libertação mas como um mal em cima de outro mal.

Desejarmos que os agressores depressa de lá saiam para as coisas não ficarem ainda pior.

A teimosia em enviar o contingente da GNR para o Iraque será contabilizada na história contemporânea como factor de desprestígio, de subserviência. Daqui a uns anos, nenhum dos membros deste governo será lembrado naquela região. Mas todos saberão que Portugal também foi envolvido nesta ilegítima ocupação militar. Que não contribuiu para a solução mas para o problema.

Não nos conformamos com isso e continuaremos a defender o regresso do contingente da GNR.

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