Intervenção de Jerónimo de Sousa, Secretário-Geral do PCP, Almoço CDU

Este é um governo que o povo não quer, que não reconhece como seu e ao seu serviço

Este é um governo que o povo não quer, que não reconhece como seu e ao seu serviço

As próximas eleições autárquicas constituem uma batalha política pelo que representam no plano local e nacional.

Partimos com confiança. Uma confiança baseada no trabalho e obra realizados, quer em maioria quer em minoria.

Uma confiança de quem tem reconhecidamente um percurso de honestidade e competência tão mais valioso quanto estes tempos de corrupção, de tráfico de influência, de falta de noção da verdade ou de ausência de respeito pela palavra dada.

Confiança no carácter unitário da CDU enquanto espaço de participação democrática de milhares de homens e mulheres que, não sendo nem do PCP nem do PEV, assumem como seu um projecto claro e com provas dadas, não se escondem por detrás de falsas listas de independentes que na maioria dos casos são listas totalmente dependentes de interesses económicos, pessoais ou partidários.

Confiança construída junto de todos os portugueses que, quando foi necessário defender os seus direitos, garantir o acesso à saúde e à educação, lutar para que não levassem o posto de correios ou os serviços públicos, lá encontraram ao seu lado os eleitos da CDU.

Confiança ganha junto dos muitos milhares de trabalhadores que na defesa dos seus postos de trabalho, na luta contra o roubo nos seus salários, na afirmação dos seus direitos tiveram sempre o PCP e a CDU ao seu lado.

Confiança de quem sabe ter solução para os problemas nacionais e apresenta ao povo e ao país uma política alternativa, patriótica e de esquerda ao serviço dos trabalhadores e do povo, capaz de assegurar um Portugal com futuro, desenvolvido e soberano.

Em 29 de Setembro, vamos dar mais força à CDU.
Mais CDU para garantir melhor resolução dos problemas das populações. Uma gestão séria e competente, uma sólida garantia do prosseguimento do trabalho e da honestidade que lhe são reconhecidas.

Mais CDU para dar mais voz à defesa do povo e dos seus direitos. Uma presença com que os trabalhadores e a população podem contar na defesa das suas aspirações, na luta pelo direito a serviços públicos de qualidade, pelo direito à saúde e à educação.

Mais CDU, para dar mais força na luta por uma vida melhor num Portugal com futuro. Apoiar a CDU é acrescentar força à luta e à razão de todos os que não aceitam o rumo de desastre nacional e que aspiram a uma outra política, patriótica e de esquerda.

No seu discurso deste fim de semana no Pontal, Passos Coelho veio cavalgar nesta ilusória perspectiva de um país que inaugura um novo ciclo e que valeram a pena todos os sacrifícios.

Veio mais uma vez dizer que estamos no bom caminho, para obsessivamente manter e defender o caminho de desastre que nos trouxe até aqui.
Veio dizer, no fundo, o que disse há um ano na mesma altura, mas que a realidade, essa teimosa realidade, teimou em desmentir, como vai desmentir agora as suas miragens de crescimento e de criação de emprego.

No ano passado, neste mesmo mês de Agosto lá no Algarve, afirmava que 2013 seria o ano da viragem. A viragem viu-se. Um ano passado e desde que anunciou tal viragem, o PIB do país já recuou 3,4%. Desde esse dia até hoje, temos mais 60 mil novos desempregados e mais 180 mil empregos destruídos. Desde esse dia mais 120 mil portugueses foram forçados a emigrar. Uma viragem amarga que Passos Coelho quer tornar ainda mais dramática com a nova ofensiva que prepara e, por isso, insiste na utilização da chantagem e das pressões sobre o Tribunal Constitucional, reiterando a sua postura de um governo fora da lei e em conflito com as outras instituições do regime democrático e que há muito devia ter sido demitido.

Um discurso onde o cinismo e a mistificação perpassam em toda a sua extensão. Vem dizer, Passos Coelho, que os portugueses votaram em eleições livres sabendo o que os esperava. É muito o seu descaramento!

Tem feito tudo ao contrário do que anunciou e prometeu e agora diz que o povo sabia no que votava. Então quem disse que era contra o aumento dos impostos, contra a ideia das famílias pagarem a crise, dos cortes nos salários na função pública, que era pelo fim do ataque às camadas intermédias, contra a liberalização dos despedimentos, contra o aumento dos medicamentos? Quem é que disse na campanha eleitoral que o desemprego não pode continuar a aumentar? Que não iria massacrar mais quem já foi penalizado? Que não podemos pôr pensionistas e reformados a pagar mais? Que tirar o 13º. mês era um disparate. Que o país não precisa de mais austeridade e o IVA não é para subir. Que temos pena daqueles que deixaram de receber o subsídio de desemprego.

Quem foi que disse tudo isto? O mesmo que dizia que era preciso valorizar a palavra e tem sido o que se vê: - Passos Coelho.
É preciso dizer basta à política de mentira e ao cinismo!

Ao contrário do que afirmam não há novo ciclo. Não há novo ciclo mantendo as velhas políticas de direita de 37 anos agravadas pelo Pacto de Agressão.

Falam de crescimento e de investimento, mas o que de facto pretendem é o reforço da política de austeridade – o seu programa de terrorismo social a que chamam de reforma do Estado.

Falam de sacrifícios como se eles tivessem valido a pena. Como se os sacrifícios tivessem servido com este governo para alguma coisa. Como se o que este governo prepara não fosse uma dose dupla de novos e mais brutais sacrifícios para os mesmos de sempre – para os trabalhadores e para o povo! Como se o país não continuasse a caminhar para o abismo, para o desastre com este governo e com esta política, apesar dos muitos e brutais sacrifícios!

A natureza de classe desta política de mentira para servir os grandes grupos e económicos e alta finança está bem patente nessa coisa ruinosa para o país que dá pelo nome de swaps e que é apenas a ponta do novelo maior de corrupção, de governação danosa, de tráfico de influências e de promiscuidade entre os poderes políticos e económicos que a política de direita promove e patrocina.

Uma ponta de um novelo que explicará os serviços prestados por aqueles que, ontem estando ao serviço da banca e dos grandes impérios financeiros e hoje enxameando ministérios, trataram primeiro de desbaratar recursos públicos com contratos obscenos e agora os renegoceiam transformando perdas potenciais em perdas reais superiores que ascendem já a mil milhões de euros.

O que fica bem claro neste negócio, mas não só deste dos swaps, mas das parcerias publico-privadas e outros desmandos, é que são aqueles que saltam dos grandes grupos económicos e financeiros para o Estado, para depois regressarem a esses mesmos grupos, num ciclo infernal de promiscuidade vergonhosa que estão não apenas a tomar conta das finanças do país e do próprio governo do país. E fazem-no não a pensar no interesse público, mas nos interesses dos grandes grupos a quem efectivamente juraram fidelidade e aos quais têm ligadas as suas vidas, os seus próprios interesses e o seu futuro.

O que tem vindo a ficar claro e de forma cristalina com este negócio dos swaps, tal como com muitos outros, é que tem sido com o dinheiro roubado aos salários e pensões de reforma, com os cortes nos direitos aos portugueses à saúde ou à protecção social e na falta de apoio às pequenas empresas, que estão a ser pagos milhares de milhões à banca internacional e nacional à conta de contratos ilegítimos e ruinosos.

E é por isso que a questão não está em juízos de valor circunscritos a atitudes morais deste ou daquele membro do governo.

A questão decisiva é a da natureza de classe e da deliberada atitude de conduzir uma política que enche os bolsos a uns poucos (os grandes banqueiros) e esvazia os bolsos a todos os outros (os trabalhadores e o povo português).

Dizem que não há dinheiro para promover o desenvolvimento do país e as necessidades do povo, mas ele existe e aparece sempre quando se trata de encher os bolsos do grande capital!

É esta política e estes objectivos que devem ser condenados e derrotados e não apenas este ou aquele ministro ou secretário de estado para manter a salvo todos os outros, mas sim o de exigir a demissão de todo um governo que tem como único objectivo favorecer o grande capital à custa da exploração dos trabalhadores e do empobrecimento do povo.

Exploração e empobrecimento que não pára com novos ataques a direitos, mais roubos nas pensões de reforma, novos assaltos a salários e rendimentos.

Sim, o governo não pára. Não pára de continuar a destruir a vida dos portugueses e a hipotecar o futuro do país.

Não pára de impor mais retrocesso social de que o alargamento do horário ou o aumento da idade da reforma para os 66 anos constituem, não pára de impor mais desemprego e alastramento da pobreza com essa legislação para assegurará o despedimento de 40 mil ou mais trabalhadores da Administração Pública, não pára de roubar mais nas pensões de reforma aos pensionistas, como de novo preparam para 2014.

Não pára de promover a precariedade e o trabalho sem direitos com a uma nova perpetuação dos contratos a prazo tão úteis ao grande patronato para manter os baixos salários.

Com novos ou velhos ministros, o que esta maioria e este Governo preparam são novos passos no caminho da exploração dos trabalhadores, do empobrecimento do povo português, da ruína de milhares de pequenas empresas, do declínio económico.

Falam em emprego e preparam-se para despedir dezenas de milhares de trabalhadores da Administração Pública;

Falam em crescimento e ambicionam cortar milhares de milhões de euros nas funções sociais – da educação à saúde e à protecção social na doença ou no desemprego;

Falam em dinamização da economia e pretendem aprovar um Orçamento de Estado que trará mais recessão, mais falências, mais desemprego;

Falam de interesse nacional quando negoceiam já um novo resgate que hipotecará ainda mais a soberania nacional, imporá mais austeridade e liquidação de direitos, avolumará uma dívida pública ruinosa e já hoje impagável.

A cada dia que passa mais são as razões para exigir a demissão do governo, mais necessário e urgente se torna derrotar definitivamente um governo que, sendo já passado, não descansa de destruir o futuro do país e dos portugueses.

Sim, camaradas, eles bem querem parecer mais unidos, bem querem fazer crer que estão ali de pedra e cal mas a verdade é que todos os dias mostram ser o que são: um governo em desagregação, isolado socialmente e politicamente ilegítimo que apesar de amparado pela mão protectora de Cavaco Silva há-de ir ao chão com a luta dos trabalhadores e do povo.

Sim, é possível derrotar este governo e a política de direita e abrir caminho a uma política patriótica e de esquerda.

O governo bem pode falar em sinais de viragem, mas o que os portugueses sentem na pele é que a sua vida é que está virada do avesso.

O governo bem pode querer iludir a realidade. Mas a verdade é que mesmo quanto ao desemprego o que a vida mostra é muito diferente do que o governo propagandeia.

A verdade, essa verdade que o governo nega, é que o que é relevante e significativo nos números do desemprego esta semana conhecidos é o que o resulta da sua comparação com períodos homólogos.

O que o Governo não consegue esconder, por mais apressados sinais de viragem que apregoe, é que o número de trabalhadores no desemprego aumentou em 60 mil do 2º trimestre de 2012 para o 2ª trimestre de 2013.

O que o Governo não consegue iludir, por mais infundados sucessos que procure apresentar, é que nos últimos 2 anos, foram destruídos em Portugal 387 400 postos de trabalho, 211 000 trabalhadores foram para o desemprego, mais de cento e cinquenta mil foram forçados a emigrar e a taxa de desemprego em sentido restrito passou de 12,1% para 16,4%.

O que alguns procuram silenciar é que, descontados as dezenas de milhares que emigraram e as dezenas de milhares de outros que desistiram de procurar empregos creditados na parcela do êxito estatístico, o que a vida mostra é a dura realidade de um desemprego massivo mal disfarçado pelos efeitos sazonais da época.

Acabado o Verão é o regresso desemprego para os poucos que conseguiram uma ocupação temporária na actividade turística.

O que o governo quer ver calado é que o único emprego criado tem salários de miséria, é precário e sazonal e muito dele é emprego por conta própria que procura responder às necessidades de subsistência das famílias. Trabalho quase escravo a que muitos são obrigados a socorrer-se para sobreviver e que deve fazer as delícias de um governo cujo objectivo é baixar salários e aumentar a exploração para garantir aos grupos económicos que gravitam ou já moram no governo taxas de lucro imensas à custa de quem trabalha.

É também por assim ser que a luta não pode parar. Não se pode dar tréguas a um governo que quanto mais tempo estiver no poder, mais longe levará o seu desígnio de exploração do nosso povo e mais fundo cavará a ruína do país.

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