Senhor Presidente, Senhores deputados,Cerca de 600 trabalhadores da fábrica da Renault, em Setúbal (agora chamada Sodia) foram esta semana notificados do processo de despedimento colectivo movido pela administração devido ao encerramento da fábrica a 31de Julho próximo futuro!Este despedimento colectivo contraria as expectativas criadas e os compromissos assumidos pelo Governo, num processo em que a actuação irresponsável do executivo tem como consequência lançar no desemprego cerca de 600 trabalhadores duma empresa do Estado, com profissão especializada, com família e com compromissos sociais. Quando o Governo negociou com a Renault a venda da sua quota e a assumpção das responsabilidades pelos trabalhadores e por uma empresa de elevada tecnologia através da criação da SODIA I e SODIA II desresponsabilizou a Renault dos seus compromissos contratuais e inclusivamente desistiu da Acção que o Estado Português movera à Renault no Tribunal de Genéve por não cumprimento dos compromissos assumidos pela empresa, em contrapartida dos benefícios fiscais e dos fundos comunitários com que fora brindada. Esqueceu o Governo as afirmações que fez na altura e, passo a citar: "O negócio entre o Estado e a Renault visa viabilizar a empresa"; "Neste processo os empregos de uma ou de outra forma estarão sempre asseguradas"; Fim de citação. Não é verdade que os trabalhadores cumpriram e até ultrapassaram os planos de produção estabelecidos pela Administração? Não é verdade que a Renault não aumentou em 180 o número de postos trabalho em Cacia como contrapartida do mesmo negócio? E agora? Onde estão os compromissos assumidos pelo Governo?Ou vai o Governo reconhecer que a sua atitude criou falsas expectativas e, na prática, significa uma posição objectiva de cumplicidade com a multinacional francesa Renault. Multinacional que, como é público, tem largos precedentes como os que deram origem à resolução do Parlamento Europeu de 11 de Março de 97 que expressamente no ponto 5 condena energicamente a direcção da Renault?Senhor Presidente, Senhores Deputados,Como pode o Governo desresponsabilizar-se e desresponsabilizar a multinacional Renault de encontrar uma solução alternativa que assegure o futuro da fábrica e os postos de trabalho? Como pode o Governo não honrar os compromissos que assumiu perante os trabalhadores?Numa reunião da Comissão de Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, realizada no passado mês de Março, com a presença do Sr. Secretário de Estado da Indústria, reunião convocada pele Sr.ª presidente da Comissão a pedido do nosso Grupo Parlamentar, o Sr. Secretário de Estado acabou por admitir que ao contrário das notícias que foram saindo na comunicação social, dando conta das negociações para vender aquela unidade fabril a construtores japoneses, depois a americanos e por fim a coreanos, não tinham qualquer fundamento, dado que nunca houve qualquer hipótese credível de venda da fábrica.Também as notícias de hipóteses de colocação profissional dos trabalhadores não tinham qualquer credibilidade dado que o Governo não possuía como não possui ainda resposta para as perguntas fundamentais:
- Quantos empregos tem o Governo para a atribuição concreta aos cerca de 600 trabalhadores da SODIA?
- Que trabalho está destinado a trabalhadores especializados da Industria Automóvel?
- Como são garantidos os seus direitos individuais e contratuais?
- a população do concelho de Almada e da Península de Setúbal;
- os direitos dos trabalhadores da Lisnave;
- os interesses do sector de construção e reparação naval;
- os interesses nacionais.
- Quando se projecta encerrar estaleiros de qualidade;
- Quando não se faz formação de pessoal numa actividade em que os trabalhadores têm que ser formados no próprio local.
- Quando os trabalhadores próprios especializados vão reduzindo o número e a média etária vai sendo cada vez mais elevada.
- Quando se recorre sistematicamente a pessoal do exterior para cumprir as encomendas regulares.
- que se está de facto a preparar? E em nome de que interesses?