Este relatório, como outros recentes, parte da constatação da existência dum profundo descontentamento e afastamento dos povos face à UE.

Tal como outros, este relatório é subsidiário da estratégia de ocultar as verdadeiras causas desse descontentamento. Mistificando as causas é mais fácil defender a continuação do mesmo caminho que aqui nos trouxe. Neste caso, a mirífica solução para a dita “crise de confiança dos cidadãos no projecto europeu” – nunca identificada como uma crise do próprio processo de integração, indissociável da sua natureza capitalista, dos seus pilares e objectivos – passa pela “democracia electrónica”.

Daria para rir se o assunto não fosse tão sério. O relatório passa completamente ao lado das questões que estão na base do afastamento das pessoas dos processos de decisão. E só isto não é coisa pouca nos tempos que correm. Sobretudo, é tudo menos inócuo.

Aqui e ali legitima-se a "EU multilevel governance", ou seja, a usurpação de poder aos povos e aos Estados e a sua concentração em instâncias supranacionais, controladas pelo grande capital e pelas potências que defendem os seus interesses. Passa-se ao lado da desigualdade brutal que existe em termos de acesso às TIC nos vários Estados-Membros. A abordagem feita ao mercado único, num relatório sobre “democracia”, é elucidativa dos reais propósitos do relatório.