Saudação de

Conferência Internacional " Para a verdade histórica e reflexão no tempo"

Contribuição do PCP , por Luis Carapinha, membro da Secçao Internacional, por ocasião do 65º aniversário da Vitória sobre o nazi-fascismo, na Conferência Internacional Histórico - Científica, organizada pelo PC da Federação Russa - Moscovo - 24 e 25 de Maio 2010.

Queridos camaradas, estimados amigos,

A presente conferência é uma iniciativa oportuna e de grande significado político que o PCP saúda, agradecendo ao PCFR o convite que nos foi dirigido para participar.

Num momento em que a Humanidade comemora o 65º aniversário da Vitória sobre o nazi-fascismo, intensifica-se a vasta campanha internacional do imperialismo de falsificação e reescrita da História.

Desde Marx já sabíamos que a ideologia dominante numa sociedade classista se configura sempre, na sua essência, como “falsa consciência”, facto bem patente quando hoje a mais grave crise económica mundial, desde os tempos da Grande Depressão, volta a abalar os pilares da dita racionalidade económica do Capitalismo.

Sob a falsa capa de uma estafada modernidade, a campanha de manipulação da História revela-se nos nossos dias uma arma propagandística de cariz perverso e obscurantista ao serviço do grande Capital e dos seus objectivos de redesenhar uma nova e, reforçadamente, anti-democrática ordem mundial. Uma campanha que objectiva ou declaradamente já chegou ao ponto de desconhecer as próprias decisões do Tribunal Internacional de Nuremberga, branqueando os crimes fascistas e pretendendo traçar um plano de igualdade entre a Alemanha nazi e a União Soviética.

Nestes tempos em que o anticomunismo se torna a converter em arma de arremesso das classes dominantes, em que os antigos membros das legiões que combateram nas SS de Hitler desfilam impunemente nas ruas de Riga e Tallin, em que, como, ainda recentemente, na Ucrânia do poder laranja, se assiste à escandalosa reabilitação e entronização de movimentos e figuras nacionalistas de cariz fascista, a preservação da memória, a reposição da verdade histórica e o aprofundamento do seu conhecimento assumem fundamental importância.

É primordial impedir que sejam esquecidas as lições do passado, e necessário recordar alguns aspectos fundamentais e estruturantes de uma análise histórica veraz do século XX:

É importante pois recordar que o fascismo foi uma “criação” das classes dominantes inseparável do contexto de crise profunda do sistema capitalista.

Recordar que a ascensão das forças políticas e líderes fascistas foi promovida e financiada pelo grande capital monopolista como um instrumento terrorista de alienação das massas e combate contra os direitos dos trabalhadores e a luta dos povos, contra os comunistas e a perspectiva revolucionária de transformações socialistas, então encabeçada pela experiência em curso na URSS.

De facto, devemos sublinhar que o nacional-socialismo alemão e o nazi-fascismo são acima de tudo um resultado “natural” do capitalismo – dentro e na forma das condições históricas concretas verificadas – e não de um estigma do germanismo ou, ainda menos, o produto específico de uma personalidade doentia.
Cabe recordar, que os regimes fascistas corporizados por Hitler e Mussolini, tal como também por Franco e, no nosso país, Salazar, entre outros, contaram com a vergonhosa cumplicidade, quando não o aval, das chamadas democracias liberais burguesas.

Em prol da verdade histórica, é vital recordar que foram os governos “democráticos” da França e Inglaterra que entregaram em 1938 a Checoslováquia ao imperialismo alemão protagonizado pelo regime nazi-fascista de Hitler, e que na sua divisão participaram então também outros governos burgueses de países europeus como é o caso da Polónia. Recordar que o ultrajante conluio de Munique em 1938 e a política de “apaziguamento” do fascismo e imperialismo alemão, longe de aplacar a fera, constituiu sim a prova de fogo que escancarou as portas ao desencadear da mais destrutiva e mortífera guerra de sempre, condensando toda a postura cínica e a hipocrisia das principais potências capitalistas. Como isto nos lembra os tempos actuais, salvo as diferenças de contexto!

É necessário afirmar o papel crucial desempenhado pelos comunistas e a classe operária no combate ao fascismo. Recordar que, enquanto a burguesia e os seus governos recuavam diante do fascismo, capitulavam vergonhosamente e traíam os interesses nacionais (de que a entrega da França de Pétain constituiu exemplo eloquente), foram os comunistas que desempenharam um papel de primeiro plano nas resistências populares anti-fascistas, mobilizando e organizando a luta dos trabalhadores e das massas.

Da mesma forma, e por mais que seja hoje, no Ocidente, repisado e glorificado o desembarque na Normandia de 1944, é impossível apagar a verdade cristalina da contribuição decisiva da URSS para a vitória sobre o nazi-fascismo e a libertação da Europa da sua tutela. A URSS, o povo soviético, os comunistas soviéticos e o Exército Vermelho foram os grandes artífices da Vitória, facto imortalizado através de batalhas heróicas como as de Leninegrado, Moscovo, Stalinegrado, Kursk e Berlim, e acontecimento com enorme repercussão em todos os avanços progressistas e revolucionários subsequentemente verificados no mundo e, antes de mais, na própria emergência de uma nova ordem internacional, consignada na fundação das Nações Unidas e nos princípios fundamentais da sua Carta, por sinal, na actualidade, um alvo prioritário do imperialismo na tentativa do erguer uma nova ordem mundial hegemónica.

No nosso país, o PCP, desde 1926 na clandestinidade, nunca deixou de desenvolver a sua linha patriótica e internacionalista contra o regime fascista. Portugal não participou na II Guerra Mundial, mas Salazar colaborou com a Alemanha nazi (nomeadamente através de significativos fornecimentos de produtos alimentares e minério). Os anos da guerra foram anos importantes do processo de reorganização do nosso partido, durante os quais o PCP se transformou num importante partido nacional. Um Partido marxista-leninista forjado nas lutas populares que esteve na primeira linha do combate à carestia resultante da colaboração com a Alemanha fascista, um Partido organizador de importantes greves e lutas pelos direitos do povo, dos trabalhadores e de todos os portugueses. A árdua resistência anti-fascista consolidou e reforçou o prestígio do PCP entre os trabalhadores, os intelectuais e o povo português, o que por sua vez contribuiu então para o reforço da unidade de todas as correntes democráticas e anti-fascistas em Portugal.

A transformação do PCP nos anos quarenta, num grande partido nacional é inseparável do prestígio alcançado pela pátria de Lénine, a URSS. Mas apesar dos profundos reflexos no nosso país resultantes da vitória sobre o nazi-fascismo – que obrigaram o regime a concessões tácticas –, as ilusões de uma rápida democratização pela mão das “democracias burguesas” alimentadas por alguns sectores foram rapidamente desfeitas. É oportuno recordar, num tempo em que invocação dos valores da democracia serve de biombo à ofensiva imperialista, que Portugal do regime fascista de Salazar integrou como membro fundador a NATO, em 1949. As alianças anti-soviéticas e anti-comunistas logo após a II Guerra incluíram o Portugal salazarista. A ditadura fascista só seria derrubada pela Revolução dos Cravos de 25 de Abril de 1974, fruto da luta perseverante do povo português e dos povos das colónias.

A situação no plano mundial permanece difícil, incerta e plena de ameaças. A NATO não só sobreviveu à Guerra Fria como reforçou o seu papel de braço armado do imperialismo norte-americano e da UE. Em Novembro prepara-se para rever de novo, na Cimeira agendada para Lisboa, o seu conceito estratégico, na via da tentativa da sua consagração como força armada de acção global.

As dificuldades objectivas e subjectivas, resultantes das derrotas históricas do socialismo na URSS e Europa Oriental, e da ofensiva global do grande capital que estas derrotas substancialmente impulsionaram, continuam a marcar o tempo presente. Transformações económicas associadas à crescente utilização e domínio das conquistas técnico-científicas pelo capitalismo, a mudanças nas formas de produção e aos processos de mercantilização e globalização capitalista tornam a luta organizada do proletariado e das suas organizações revolucionárias mais difícil e complexa.

A história ensina-nos porém que é indispensável ter confiança na luta dos trabalhadores, das massas e dos povos. A determinação, coerência e confiança na luta demonstram – tal como nos dias aziagos em que a sombra do fascismo tombou sobre a Europa – que, sim, será possível atingirmos os nossos objectivos na luta emancipadora por um mundo qualitativamente melhor, no qual a verdadeira alternativa é o socialismo.

Justamente, a confiança e determinação reveladas na grande vitória do povo soviético na II Guerra Mundial, que nenhuma campanha de apagamento e falsificação da História poderá fazer esquecer.

Partido Comunista Português

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