Intervenção de Jerónimo de Sousa, Secretário-Geral

Comemorações do Centenário de Lino Lima

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Permitam-me que saúde e valorize a iniciativa da presidência do município e dos seus órgãos executivos e deliberativos de homenagear Lino Lima na passagem do seu centésimo aniversário.

Homenagear um homem de convicções e de carácter que desde cedo fez opções, colocando-se do lado dos injustiçados, dos mais frágeis, do lado da democracia e da liberdade.

Tendo em conta a sua origem e vivência familiar e profissional podia não ter feito essa opção. Mas fez.

Nascido no Porto, veio, ainda criança para Vila Nova de Famalicão onde cresceu, viveu e trabalhou.

Veio a tornar-se um dos advogados mais importantes quer da Comarca, quer na defesa dos presos políticos nos Tribunais Plenários, mantendo simultaneamente uma intensa actividade política, inicialmente na clandestinidade e no final da 2ª Guerra Mundial na luta legal, ligando-se aos movimentos políticos como o MUNAF e o MUD, integrando as suas Comissões.

Apoiando as candidaturas presidenciais de Rui Luís Gomes e Humberto Delgado, participando activamente nas eleições legislativas para a Assembleia Nacional de 1957 e 1969, nos Congressos Republicanos desses mesmos anos e no Congresso da Oposição Democrática em 1973.

A sua adesão ao PCP, ao seu partido de sempre, aconteceu em 1941, ano em que o Partido encetou a tarefa da sua reorganização se transformou num partido de dimensão nacional.

Preso por quatro vezes pela polícia política voltou sempre ao seu posto de combate na luta antifascista.

A maior alegria da sua vida foi a revolução libertadora de Abril. Imediatamente foi na sua casa que se começou a tratar da organização do Partido, concretizando o aluguer de uma casa para o funcionamento do Centro de Trabalho de Famalicão.

Como prova do seu prestígio Lino Lima integra em Junho de 1974 com mais 6 personalidades de diversos partidos a Comissão Eleitoral que haveria de produzir a Lei Eleitoral para a Assembleia Constituinte, com a celeridade que se exigiu. Lei mais avançada de sempre na nossa história e que permitiu a maior participação eleitoral até aos dias de hoje.

A revolução de Abril foi sem dúvida a sua maior alegria. A sua maior tristeza e mágoa foi o acto de vandalismo e de terrorismo que se materializou no incêndio e destruição total do seu escritório, dos papéis e o acervo de documentos que testemunhavam a sua vida apaixonante.

Tristeza e mágoa maior por ver a sua companheira de sempre, a Júlia, profundamente abalada e a sua saúde afectada de forma irreversível.

O que é espantoso é como é que um homem com perdas tão grandes foi capaz de manter convicções e ideal, com uma determinação imensa, bem expressa na sua actividade parlamentar, sempre acompanhada por um humor e ironia certeiros e demolidores.

O Lino era um homem de carácter, um homem sério. Tinha da política uma concepção de servir e não se servir.

Permitam-me que recorde um episódio:

O Lino (como deputado) foi de viagem para Lisboa, levando o carro no comboio. Dirigiu-se aos serviços de tesouraria da Assembleia da República para ser ressarcido do título de transporte.

A funcionária, com alguma desconfiança, perguntou ao camarada Lino Lima se era mesmo assim, se tinha trazido realmente a viatura, mas lá acabou por fazer o pagamento devido.

O Lino veio, e já na sala do Grupo Parlamentar parou, pensou e saiu de novo direito à tesouraria, chamou a senhora e disse-lhe: « - Minha senhora quero dar-lhe os parabéns! Porque pela primeira vez na vida alguém desconfiou da minha honestidade! Fique lá com o dinheiro como prémio».

Sim, é justa esta homenagem ao homem íntegro, ao homem de coragem, que lutou muito pela liberdade e a democracia, que tomou como suas dores as injustiças e o sofrimento do povo a que pertencia, como tão bem descreve no seu livro «Romanceiro do povo miúdo». Daqueles homens que sempre achou que valia a pena lutar para transformar as coisas e a vida na procura intensa de uma vida melhor para o seu povo e o seu País.

Não esqueceremos o teu exemplo camarada Lino Lima.

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