Prenda atrasada
artigo de Vitor Dias - «Avante!» - 30.12.2005
Para além de caracterizações insultuosas «ad
hominem» que se registam (e que representam tudo aquilo que o PCP
não fez sobre o novo Secretário-geral do PS), o agora importante
dirigente do PS Luís Capoulas Santos afirmou, em entrevista n’
A Capital, que «o PCP tem sido um aliado objectivo do PSD e da direita».
Embora o Natal já tenha passado, só por esta afirmação
Capoulas Santos bem merece uma prenda e aqui lha damos com todo o gosto.
A prenda consiste em, surpresa das surpresas, afirmarmos que ele tem toda
a razão deste mundo e do outro e que algum dia se acabaria por
descobrir a verdade.
Com efeito, a mais pura das verdades é que foi o PCP, e não
o PS, que juntou os seus trapinhos no governo primeiro com os trapinhos
do CDS e depois com os trapinhos do PSD.
A mais cristalina das verdades é que foi o PCP, e não o
PS, que se aliou com o PSD em cinco magníficas revisões
constitucionais.
A mais forte das verdades é que foi o PCP, e não o PS contra
a CDU, que em 1985, já com Cavaco Silva como Primeiro-Ministro,
realizou no sul do país quarenta-coligações-quarenta
com o PSD no plano autárquico.
A mais irremovível das verdades é que foi o PCP, e não
o PS, que sempre se aliou ao PSD e com ele convergiu em cada novo passo
na escalada federalista do processo de integração europeia.
A mais indiscutível das verdades é que foi o PCP, e não
o PS dirigido por António Guterres que, estando no Governo entre
1995 e Março de 2002, realizou uma sucessão de acordos e
combinações em matérias fulcrais quer com o PSD quer
com o CDS-PP (em versão Manuel Monteiro ou em versão Paulo
Portas).
E, por fim, abreviando para facilitar a digestão ao eng. Capoulas
Santos, é a mais imperecível das verdades que foi o PCP,
e não o PS, que repetida e prolongadamente - no governo ou na oposição
- sempre se aliou ao PSD e ao CDS para levar por diante os processos de
privatizações, não havendo agora espaço para
apurar a quem mais se fica a dever esse deslumbrante instrumento de ressurgimento
nacional.
Dirão alguns incrédulos que não pode ser pois bem
se lembram dos factos, das caras dos protagonistas e das notícias
e fotos na comunicação social.
Puro engano de espíritos manipulados pela repetição
da mentira até que pareça verdade. Pura e simplesmente,
não sabem que, em todas essas épocas, os dirigentes e deputados
do PCP praticavam a suprema perfídia de usarem máscaras
com as inocentes efígies de dirigentes do PS e que, mais uma vez
em santa aliança com a direita, exerciam uma tenebrosa coaçção
sobre os jornalistas, obrigando-os a dizer e a escrever que quem fazia
tais escandalosas alianças com a direita era o PS.
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