Calúnia x 8

Artigo de João Amaral
no «Jornal de Notícias»

28 de Setembro de 1998



Os cartazes "X 8" que o PP espalhou pelo país são um vergonhoso insulto a todos os que hoje exercem funções, seja nos órgãos centrais do Estado, seja nos municípios e nas freguesias, ou nos órgãos desconcentrados da administração central.

De facto, a tese primária e insultuosa a que apela o cartaz, "Corrupção X 8", é a de que onde há um titular de cargo político está um corrupto. Ninguém chegou tão longe nem tão baixo nesta campanha.

Os milhares de eleitos das freguesias e municípios, e as centenas de dirigentes das delegações regionais e distritais espalhadas pelo país, assim como os directores-gerais e equiparados, ficam a saber o que o PP pensa deles. Pior ainda, ficam a saber que o PP não tem qualquer pejo em apontar-lhes publicamente o dedo dizendo que todos eles são corruptos.

Como é que se chegou tão baixo? O problema é que um certo tipo de campanha pelo "não" já se esgotou há muito tempo. Andaram muito tempo sozinhos no terreno, enquanto os partidários do "sim" estavam calados.

Nesse tempo, disseram impunemente o que lhes apeteceu. Falaram de tachos, impostos, bandeiras rasgadas, valeu tudo. Atingiram o auge há uns meses, e de então para cá, quando começaram a surgir os argumentos a favor do "sim", sentiram-se a perder terreno e credibilidade.

O tipo de partidário do "não" que o é o dr. Paulo Portas não quer discutir seriamente, prefere o populismo e a demagogia, mesmo que tenha de recorrer ao insulto e tenha de perder todo o sentido da decência.

Evidentemente que há pessoas sérias que têm reservas à regionalização, e que se questionam sobre a melhor forma de servir o país. O dr. Paulo Portas não é dessas pessoas. Ele não tem questões sobre a regionalização, ele tem um projecto pessoal de poder e está a jogá-lo neste referendo.

O que leva o dr. Paulo Portas a este vale tudo é que ele é contra as regiões porque isso serve agora a sua ambição de ser um dia vice-primeiro-ministro (!), de um governo AD liderado pelo prof. Marcelo. O dr. Paulo Portas não tem convicções, tem ambições.

Durante anos, fez do "não à Europa" a razão de ser do PP. De um dia para o outro, mandou às malvas essa posição do PP, que considerava essencial, correu com o seu amigo Manuel Monteiro e instalou-se na Direcção do PP com um programa de "sim à Europa". Ficou a faltar-lhe um "não" para se juntar ao PSD, encontrou-o na regionalização. Tem agora no "não às regiões" o mesmo empenho que tinha há três anos, na altura das eleições, no "não à Europa" de Maastricht, e que agora já transformou num "sim". O que lhe dá o empenho é a ambição pelo poder.

Convicções, nem vê-las.

E, afinal, onde está a "Corrupção X 8"? Até o dr. Portas sabe que as funções que os dirigentes das regiões vão exercer são hoje exercidas pelos dirigentes das CCR e por muitos dirigentes de serviços desconcentrados do Estado, espalhados pelo país todo. Então, o dr. Portas acha que esses dirigentes, sendo eleitos e respondendo perante a população, são mais corruptos? O dr. Portas não precisava de fazer uma profissão de fé antidemocrática tão grande, nós já acreditávamos!

O problema do dr. Portas é que o Manuel Monteiro fazia estes números de demagogia fácil com mais manha e eficácia. Ainda hoje, quando os jornais querem um comentador do PP, chamam o dr. Monteiro. Paulo Portas não luta só pelas suas ambições, luta pela sobrevivência!