Intervenção de Filipe Costa, Membro do Comité Central

Abertura da VII Assembleia da Organização Regional de Bragança

Abertura da VII Assembleia da Organização Regional de Bragança

Camaradas e Amigos

Não é pobre a região em que vivemos, foi empobrecida por décadas de política de direita.

Ao longo de décadas a região, nomeadamente o distrito de Bragança a que se confina a nossa organização, foi alvo de opções políticas que depauperaram as condições de vida de quem cá reside e trabalha. Sucessivos governos fizeram-no através do encerramento da linha ferroviária, da degradação das ligações viárias e da privatização da rodoviária nacional no plano da mobilidade das populações. Fizeram-no através do encerramento de centenas de escolas, da desclassificação dos hospitais de Macedo de Cavaleiros, Mirandela e Bragança e redução dos horários de atendimento nos centros de saúde, do encerramento das delegações da RTP, EDP e PT, do encerramento de dezenas de Postos dos CTT e desclassificação de várias Estações, do encerramento de várias agências da Caixa Geral de Depósitos, da diminuição das competências dos tribunais em cada concelho do distrito, no plano dos serviços públicos. Fizeram-no através da extinção de freguesias, da imposição de condições draconianas à gestão municipal dos serviços de água e resíduos, do corte nas transferências do Orçamento do Estado para as autarquias e da rejeição da criação de regiões administrativas, no plano do poder local democrático. Fizeram-no através da atribuição de fundos para não produzir, do ataque à propriedade comunitária que é os baldios, da desvalorização dos produtos endógenos, da destruição do Complexo Agroindustrial do Cachão e da indústria extractiva, no plano produtivo. Fizeram-no através do ataque aos direitos dos trabalhadores, da promoção da precariedade e dos baixos salários e da desvalorização das reformas e pensões, no plano social.

Mandaram as pessoas embora porque lhes retiraram condições para cá ficar. Não há pescadinha de rabo na boca, há responsabilidades e responsáveis políticos pela queda demográfica e os problemas estruturais da região.

A região em que vivemos não requer estatuto de interioridade, exige opções políticas integradas de valorização do território.

Políticas integradas que passam necessariamente pela valorização dos trabalhadores, pelo aumento geral dos salários, pela valorização das reformas e pensões, pelo investimento no Serviço Nacional de Saúde, dotando-o de meios humanos, materiais e financeiros, pela urgente resposta pública nos apoios à terceira idade, pela defesa e valorização de serviços públicos de qualidade e proximidade, pela reactivação do transporte ferroviário, moderno e rápido, de passageiros e mercadorias, por medidas de valorização e diferenciação dos produtos autóctones (Azeite, carne, Amêndoa, Vinho, Castanha entre outros), pela projecção do complexo do cachão como entreposto de recolha, transformação e escoamento dos produtos regionais, pela valorização dos professores e da escola pública, pela não introdução de portagens na A4, por uma política fiscal, mais justa, que em detrimento de benefícios aos grandes grupos económicos apoie os micro, pequenos e médios empresários, pela elaboração de um plano de regadio para a região, pela devolução da Casa do Douro aos vitivinicultores e pela conclusão da ligação dos concelhos de Vimioso e Vinhais à rede nacional de autoestradas.

Camaradas,

A aplicação de tais políticas não podem depender de PS, PSD e CDS, pois foram exactamente estes partidos, quer no plano nacional quer no plano local, que nos trouxeram até aqui. São eles e os seus representantes os responsáveis pela desertificação e abandono do território. A construção de uma política alternativa, que o nosso partido identifica como patriótica e de esquerda, exige um PCP mais forte e influente no plano nacional e local.
A resolução do Comité Central de 21 de Janeiro, Sobre o Reforço do Partido, aponta um conjunto de tarefas fundamentais ao cumprimento do objectivo de um PCP mais Forte e mais influente.

Tarefas que passam pelo reforço do trabalho de direcção, pela responsabilização de quadros e pela formação ideológica dos militantes; pela entrega do novo cartão de membro do Partido; pelo recrutamento e integração dos novos militantes; pelo reforço da organização e intervenção nas empresas e locais de trabalho, nomeadamente a campanha de 5 mil contactos com trabalhadores; pela ligação do partido às populações e seus problemas; pela ligação à juventude, aos agricultores, aos pequenos e médio empresários e outras camadas e sectores sociais; pelo reforço do trabalho de propaganda e agitação e difusão da imprensa Partidária; por assegurar a independência financeira e os meios próprios; pela realização de Assembleias de Organização; pela defesa dos princípios de funcionamento do partido.

Camaradas,

Colocado desta forma, o mais natural é considerar impossível ou muito difícil. E será se formos incapazes de perceber que o cumprimento destas tarefas não pode e não depende de um homem só. Depende do trabalho colectivo, assente em tarefas distribuídas pelos vários militantes, pela definição de objectivos a concretizar, construídos passo a passo, assentes em método e estilo de trabalho.

Os objectivos gerais são balizas para orientar o trabalho e indicar um caminho. No quadro da campanha de 5 mil contactos com os trabalhadores, todos entendemos a sua importância mas registam-se atrasos na sua concretização, não porque não existem 100 trabalhadores na região em condições de serem abordados para aderirem ao partido, mas porque falhamos na planificação para atingir o objectivo. Primeiro, cada um de nós, não interiorizou que falamos com trabalhadores todos os dias, segundo porque quando falamos com eles não temos presente a possibilidade de ele ser potencial membro do partido, terceiro, somos incapazes de indicar nomes de trabalhadores com que falamos todos os dias como potenciais membros do partido nas reuniões e bloqueámos no primeiro passo, listagem nominal de trabalhadores a contactar. A lista de trabalhadores que identifiquemos para abordar revelará qual o camarada em melhores condições de falar com esse trabalhador, tendo em conta a sua especificidade, esclarecendo-o sobre a identificação da actual fase da vida política nacional e o que significou em relação a anteriores governos, valorizando os avanços alcançados, pela contribuição decisiva do PCP, e as suas limitações, por opção do PS que não quer ir mais longe e mantém-se amarrado aos interesses dos grupos económicos e submisso às imposições externas, afirmando o projecto e proposta alternativa do Partido, clarificando o que é a política patriótica e de esquerda e que o compromisso do partido é com os trabalhadores e o povo, convidando-o a aderir ao Partido valorizando o papel que pode ter na organização e na empresa em que trabalha.

Se de dez conversas com trabalhadores uma se materializar em adesão ao partido, estaremos a cumprir também com objectivos gerais de recrutamento, rejuvenescimento, alargamento da base para cobrança de quotas, integração de novos militantes e reforço da organização nas empresas e locais de trabalho.

A par da campanha de 5 mil contactos com trabalhadores, a entrega do novo cartão de militante é daquelas tarefas que permitem integrar um conjunto de outras, desde que devidamente planificada, porque identifica cada membro do partido, propicia o contacto com todos os militantes o que desde logo impõe uma conversa. Conversa essa que deve transportar a importância, formalidade e significado do acto de entrega de um novo cartão do Partido Comunista Português, aproveitando para ver com cada membro a sua disponibilidade para desempenhar uma tarefa, receber a imprensa do Partido, regularizar e actualizar a sua quota, esclarecer posições e informar da actividade do Partido, divulgar e promover a Festa do Avante, nomeadamente a compra solidária da EP.

Camaradas e Amigos

Para um PCP mais forte não basta ser portador de um projecto transformador inspirado no sonho milenar da libertação do homem de qualquer forma de exploração e no supremo objectivo de construção do socialismo e do comunismo, é necessário dar corpo a esse projecto e objectivo com organização e capacidade de intervenção.

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